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Mestre. A tela San Giovanni Battista (1604) vem de mostras no Canadá e na Rússia
Reprodução
Quadro 'São Jerônimo Que Escreve'
BELO HORIZONTE - Após dois anos de negociações e três cancelamentos sucessivos, a mostra Caravaggio e Seus Seguidoresfinalmente é inaugurada no Brasil. A partir de hoje e até 15 de julho, a exposição, que traz seis obras do pintor italiano Michelangelo Merisi da Caravaggio (1571-1610), entre elas, uma das duas versões de sua famosa Medusa, e o quadro São Jerônimo Que Escreve, pertencente, desde o século 17 à Galleria Borghese de Roma, é apresentada na Casa Fiat de Cultura de Belo Horizonte. Depois de Minas, as pinturas de Caravaggio e de 14 pintores caravaggescos, que se inspiraram no mestre precursor do barroco, serão exibidas em São Paulo, no Masp, de 26 de julho a 30 de setembro.
Um pintor que teve a genialidade reconhecida em vida, homem de temperamento "maldito", com sua história sempre contada de maneira romanceada. Apesar de mitos, um fato foi determinante em sua trajetória, o homicídio cometido por ele em 1606 em Roma, forçando-o a iniciar um processo de fuga de sua prisão e condenação à morte - Caravaggio deslocou-se para Nápoles, Malta e Sicília até morrer em circunstâncias ainda não claras em Porto Ercole. Mais do que ser o artista que desenvolveu como poucos a técnica do claro-escuro, conferindo uma beleza intensa de estilo e na escolha dos temas de suas telas, e de ser autor que promoveu experimentações pioneiras, Caravaggio "é um pintor que sabe o drama da existência e o vive e o coloca de maneira realista na sua obra, aproximando-a da realidade de sua vida", diz o curador italiano Giorgio Leone.
Logo na entrada da mostra, duas telas são a encarnação desse duo vida e obra. A principal pintura da mostra, São Jerônimo Que Escreve (1605-1606) - que representa o legado da relação do cardeal Camillo Borghese (que se tornou o papa Paulo V) - e São Francisco em Meditação (1606), pertencente à Galleria Nazionale d'Arte Antica di Palazzo Barberini de Roma, têm em comum a figura da caveira, símbolo da morte. Na obra de São Jerônimo, o crânio é uma espécie de espelhamento do rosto do santo, que está "inacabado", como diz Giorgio Leone. "Creio que ele não conseguiu terminar a face porque teve de fugir de Roma", conta o curador. Já o São Francisco, "feito já em fuga", segura a caveira na mão, como se tivesse a consciência de seu fim.
Tanto São Jerônimo como São Francisco são obras que têm a autoria incontestada e histórica atribuída a Caravaggio, desde o século 17, mas as outras pinturas presentes na exposição representam caráter diferente. "A mostra trata dessa questão de autoria", afirma Leone. Para um quadro ser considerado um Caravaggio, deve constar em documentos históricos, corresponder ao estilo do artista e ter sido executado a partir de técnica típica do artista. "Duas obras da mostra, a Medusa Murtola, pertencente a colecionador privado, e Retrato do Cardeal Benedetto Giustiniani, são reconhecimentos recentes, respectivamente, de 2011 e 2010", conta o curador. "E temos duas outras pinturas cuja autoria de Caravaggio é controversa, um exemplar de São Francisco em Meditação pintado em Malta que, para mim, trata-se de uma cópia, e o quadro São Januário (do Museu Diocesano de Palestrina), que alguns estudiosos dizem não ser do pintor."
O curador fala abertamente desse tema e ressalta que um dos grandes destaques da exposição, nesse sentido, é a vinda da Medusa Murtola, autorretrato do artista executado em 1597, um óleo sobre tela de linho aplicado sobre um escudo de madeira tal qual a famosa versão Cabeça de Medusa, do acervo da Galleria degli Uffizi de Florença. "Hoje está claro que Caravaggio pintou duas Medusas. O modo como fez a boca e uma marca e, a partir de estudos, vimos em radiografias que sob a pintura ele fez serpentes diversas, colocou olhos em outros lugares. Feita essa, que é assinada, ele criou a que está em Florença", explica o curador.
Entretanto, quase que a obra não vem ao Brasil. Como disse ao Estado o presidente da Casa Fiat de Cultura, José Eduardo de Lima Pereira, a Medusa Murtola, de coleção privada e exibida ao público apenas no ano passado, em Milão, foi confirmada apenas na última sexta-feira e chegaria de Luxemburgo no dia seguinte. "Foi realmente muito árduo (o processo de realização da mostra), com problemas burocráticos, de troca de equipe governamental na Itália, dificuldades do processo de tutela das obras."
A mostra, feita com R$ 5,5 milhões incentivados e com recursos próprios da Fiat, depois de São Paulo deve seguir para o Museo Nacional de Bellas Artes de Buenos Aires, mas essa itinerância ainda não está confirmada
Um pintor que teve a genialidade reconhecida em vida, homem de temperamento "maldito", com sua história sempre contada de maneira romanceada. Apesar de mitos, um fato foi determinante em sua trajetória, o homicídio cometido por ele em 1606 em Roma, forçando-o a iniciar um processo de fuga de sua prisão e condenação à morte - Caravaggio deslocou-se para Nápoles, Malta e Sicília até morrer em circunstâncias ainda não claras em Porto Ercole. Mais do que ser o artista que desenvolveu como poucos a técnica do claro-escuro, conferindo uma beleza intensa de estilo e na escolha dos temas de suas telas, e de ser autor que promoveu experimentações pioneiras, Caravaggio "é um pintor que sabe o drama da existência e o vive e o coloca de maneira realista na sua obra, aproximando-a da realidade de sua vida", diz o curador italiano Giorgio Leone.
Logo na entrada da mostra, duas telas são a encarnação desse duo vida e obra. A principal pintura da mostra, São Jerônimo Que Escreve (1605-1606) - que representa o legado da relação do cardeal Camillo Borghese (que se tornou o papa Paulo V) - e São Francisco em Meditação (1606), pertencente à Galleria Nazionale d'Arte Antica di Palazzo Barberini de Roma, têm em comum a figura da caveira, símbolo da morte. Na obra de São Jerônimo, o crânio é uma espécie de espelhamento do rosto do santo, que está "inacabado", como diz Giorgio Leone. "Creio que ele não conseguiu terminar a face porque teve de fugir de Roma", conta o curador. Já o São Francisco, "feito já em fuga", segura a caveira na mão, como se tivesse a consciência de seu fim.
Tanto São Jerônimo como São Francisco são obras que têm a autoria incontestada e histórica atribuída a Caravaggio, desde o século 17, mas as outras pinturas presentes na exposição representam caráter diferente. "A mostra trata dessa questão de autoria", afirma Leone. Para um quadro ser considerado um Caravaggio, deve constar em documentos históricos, corresponder ao estilo do artista e ter sido executado a partir de técnica típica do artista. "Duas obras da mostra, a Medusa Murtola, pertencente a colecionador privado, e Retrato do Cardeal Benedetto Giustiniani, são reconhecimentos recentes, respectivamente, de 2011 e 2010", conta o curador. "E temos duas outras pinturas cuja autoria de Caravaggio é controversa, um exemplar de São Francisco em Meditação pintado em Malta que, para mim, trata-se de uma cópia, e o quadro São Januário (do Museu Diocesano de Palestrina), que alguns estudiosos dizem não ser do pintor."
O curador fala abertamente desse tema e ressalta que um dos grandes destaques da exposição, nesse sentido, é a vinda da Medusa Murtola, autorretrato do artista executado em 1597, um óleo sobre tela de linho aplicado sobre um escudo de madeira tal qual a famosa versão Cabeça de Medusa, do acervo da Galleria degli Uffizi de Florença. "Hoje está claro que Caravaggio pintou duas Medusas. O modo como fez a boca e uma marca e, a partir de estudos, vimos em radiografias que sob a pintura ele fez serpentes diversas, colocou olhos em outros lugares. Feita essa, que é assinada, ele criou a que está em Florença", explica o curador.
Entretanto, quase que a obra não vem ao Brasil. Como disse ao Estado o presidente da Casa Fiat de Cultura, José Eduardo de Lima Pereira, a Medusa Murtola, de coleção privada e exibida ao público apenas no ano passado, em Milão, foi confirmada apenas na última sexta-feira e chegaria de Luxemburgo no dia seguinte. "Foi realmente muito árduo (o processo de realização da mostra), com problemas burocráticos, de troca de equipe governamental na Itália, dificuldades do processo de tutela das obras."
A mostra, feita com R$ 5,5 milhões incentivados e com recursos próprios da Fiat, depois de São Paulo deve seguir para o Museo Nacional de Bellas Artes de Buenos Aires, mas essa itinerância ainda não está confirmada
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